Oi, Deus. Saco, eu nunca sei como começar isso. E me desculpa mesmo por colocar ‘saco’ no começo da frase. Eu não sou bom com essas coisas, você sabe.
Mas você também sabe que não sou muito de falar. Boa parte da vida só fiquei no meu canto e sem puxar assunto, nem nada. Cê sabe que eu tento ficar quieto na maior parte do tempo e só deixar as coisas correrem por aqui.

Eu me viro, sabe?
Se tem uma coisa, que aprendi nessa vida, é a me virar. Cê sabe. Já aconteceu tanta coisa e a vida segue e eu tô bem.

Então, eu não quero pedir nada pra mim, não é por isso que eu tô aqui.

Sempre me falaram que existe uma forma certa de falar contigo. E daí inventaram aquele monte de oração e um monte de coisa pra gente decorar.
Mas e se pra mim não funcionar assim?
Acho que precisa ser sincero, igual quando a gente canta uma música bem baixinho e ela é tão bonita que até dói dentro da gente. Acho que por isso eu só vim aqui agora, sabe, esperei esse tempo passar e a madrugada vir. Porque de madrugada a gente não mente. A gente coloca a cabeça no travesseiro e todos os nossos medos e amores dançam ao nosso redor. E a gente sente tudo pra valer. E até chora um pouco se não tomar cuidado.

Isso sempre soa meio bobo? Eu não sei se preciso te fazer alguma promessa.
E, na verdade, nem sei se você gosta mesmo de mim. Eu sei que faço muitas piadas e tudo mais… Mas imagino que goste, porque coisas boas me aparecem às vezes. Como ela.

Você me deu um anjo de sorriso bonito! E ela fez uma festa linda por aqui! Tinha música e cores e eu senti uma alegria tão grande no coração!

Eu sou um desastre, cê sabe. Nem sei se eu merecia tudo isso.

E você criou o universo, e criou o mundo e criou girafas, focas, geometria e canetas de quatros cores. E criou ela.
Você sabia que ela seria a coisa mais incrível de toda a sua criação, né?

Então, deve ser meio fácil fazer o que eu te pedir.
Você é Deus, sabe das coisas.
É justo.
Cuida dela.
Cuide dela e de todos que forem dela.
Principalmente se eu não puder mais estar por perto.
Toma conta, por favor.
Por favor: tome conta dela.

Alguns sorrisos naquele rosto bonito e toda calma do mundo no coração.
E ajuda a vida dela a ser boa pra caralho!

Que pra mim já tá bom. Obrigado.


lamparina

11dez19

você apaga a luz, mas me diz que não apagou
eu duvido dos meus olhos e da minha cabeça

foi essa semana,
que vi o mundo existir como uma árvore no meio do mar
contei navios e as ondas que batiam em mim,
contei as horas e me comparei com todo mundo que estava ao redor
pela primeira vez em tanto tempo
eu gritei pro universo
e ele ficou em silêncio
e eu tive medo.

essa meia luz combina com a sala
mas eu fico sem ar se a janela não estiver aberta
então eu volto sozinho pra casa

minha psicóloga me disse que eu deveria procurar o que me fizesse feliz


para quebrar

03dez19

vou estar no canto
naquela parte pequena da sala
mais ou menos onde eu tava
antes de você tropeçar em mim
e me tirar do meu lugar

tinha um universo inteiro
uma música tão bonita
e a cor mais azul que eu já vi

tinha uma vontade de explodir de dentro pra fora
e fazer fogos de artificio no teto do seu quarto

e eu achei
(achei mesmo)
que todos os nossos planos eram permitidos
porque eu era sua pessoa
e você era minha pessoa
sendo assim, não existia nada que a gente não pudesse passar

e agora eu vou voltar pro meu lugar
tudo bem, se essa é forma do mundo me contar
que é assim que a gente faz pra você ser feliz

com ela


Eu descobri pelo Twitter. Ela postou alguma coisa sobre estar provando vestidos de noiva. Fui ler mais coisas e descobri que já têm data, têm buffet e têm um plano de vida no Estados Unidos.

A gente se conhece já faz uns 10 anos, mas a gente não se fala direito já faz pelo menos uns 4. E nesse tempo a vida mudou um bocado. Como costuma acontecer de vez em quando, eu acho. E agora ela tá viajando pra todo lugar do Estados Unidos.

Lembro que ela lia meu blog. Lembro que fomos num show da Fresno e foi um fim de semana absurdamente engraçado. Lembro que ela me escreveu uma carta uma vez. Lembro que ela veio me contar quando começou a fazer mais amigos.

Achei que eu deveria mandar alguma mensagem. Então mandei. Só desejando toda alegria do universo e que o mundo seja bom. Eu ergueria uma taça de vinho agora, como num brinde.

Ela me pareceu tão feliz olhando daqui de longe, que achei que eu deveria escrever qualquer coisa. Então tô aqui.

O amor é um ato de coragem.

Todos os dias a gente acorda podendo escolher uma porção de coisas. Boa parte delas já estão no automático, mas mesmo assim são escolhas. Escolhemos nossas roupas, escolhemos onde vamos, escolhemos se vamos dormir mais um pouco. E essas escolhas começam a fazer parte da gente.

Ela escolheu se casar. Provavelmente virar a vida de ponta cabeça e ver o que acontece depois. Compartilhar os sonhos com alguém, dobrar as roupas depois de lavar, colocar a escova de dentes no mesmo copo.

Deve existir algum ponto onde você olha pra vida e percebe que aquele momento é único e vai ser um divisor de águas. Talvez a gente nem saiba reconhecer quando eles acontecem. Talvez ela nem tenha pensado em tudo isso na verdade e só esteja vivendo tudo aquilo que aquece o peito. Mas eu acho que faz bastante sentido se for assim, porque se não for pelo amor, pelo o que mais a gente vai viver?

O universo têm uma forma engraçada de falar com a gente.


o amor existe. eu sei. eu posso te contar. com toda a minha experiência errante, no alto dos meus 27 anos, de quem ainda timidamente sente as borboletas passeando pelo estômago e fica olhando as horas no relógio e procurando pela casa quando ela não está.

o amor existe. e vão tentar te dizer que não. na verdade, o mundo vai te dar mil provas. vai estar na televisão, nos jornais, no presidente, no governo, no vizinho, nas histórias dos seus amigos, em alguns problemas familiares. vão te falar que o amor é fora de moda, ou que está em apuros e que não merece mais atenção.

mas ele existe. eu posso mesmo te contar.

o amor existe e eu sei que às vezes não é fácil. que as pessoas não gostam do amor. o amor é feio. o amor quer atenção. o amor é bagunceiro, anarquista. mas é porque ele exige coragem. exige que você solte as duas mãos e pule sem nenhuma rede de segurança embaixo. ele pede sorrisos bobos e longas viagens. o amor exige que você olhe bem nos olhos dele e trace uma linha reta em uma direção que você nunca pensou que iria.

e exige paciência.

o amor pede ternura. pede desculpas. pede bondade. ele entende que nós, humanos, somos apenas isso. somos pessoas, somos gente. e que isso quer dizer que de vez em quando o tempo precisa passar um pouco.

pra calma chegar e o amor pousar no seu ombro.

o amor e o tempo se apaixonaram certa vez e resolveram brincar de esconde-esconde por todo o universo. hora elas se acham, hora eles se procuram. mas eles sempre estão juntos.

o amor existe. e mesmo com toda a bagunça que às vezes ele coloca na bagagem, eu não trocaria por nada. mesmo que o mundo insista em dizer que ele só faz bobagem. porque o amor também permite que você olhe ao redor, olhe pra trás, reconheça seus passos e suas memórias pra escolher do que mais gosta.

o amor existe. e se você deixar, se você abrir os braços, ele vai fazer moradia em você, pintar as paredes de amarelo, te mostrar umas músicas que vão se tornar favoritas e, com a simplicidade de um cachorro de rua se espreguiçando ao sol, te coroar como um rei.


o céu, o sol e o asfalto traçam uma linha só
e eu me apaixonei pela forma como suas mãos seguram o volante
e eu só queria segurar as suas mãos também

fiz um acordo com o tempo.
um pacto.
pra ele ser doce, mesmo se precisar
passar tão depressa assim.
porque somos só pessoas,
e somos tão frágeis
que todo o amor se expande
dentro da gente como um balão
e às vezes a gente não cabe mais em lugar nenhum.
então me encostei no canto do seu quarto
e pedi pro tempo parar.

fiz uma coleção de raios de sol entrando pela janela
e foi a foto mais bonita que eu fiz.
existe qualquer coisa
sobre pessoas que parecem abajures
e colocam luzes de cores diferentes na nossa cabeça
existe qualquer coisa
sobre tentar congelar a vida num momento

e eu te abraçaria de olhos fechados em todos eles.


Poema do sol

01out19

eu era pequeno demais 
e minhas mãos só alcançavam a borda da janela,
pra tentar olhar além
eu me dependurava com os pés escalando na parede
até cansar.
então eu só olhava a luz do sol
e forçava a vista pra ver a poeira 
contando as cores que fazia na parede da sala.

eu era pequeno demais
e às vezes tinha medo quando o carro ia tão depressa
mas eu gostava do vento
e da sensação de ir pra outro lugar.

eu era pequeno demais
e lembro que tentei olhar pro sol uma vez,
lembro que a gente tinha uma lupa
e dava pra queimar folha seca
mas eu tinha dó de queimar formiga. 

eu era pequeno demais
e adorava acordar cedo,
pra ter a casa só pra mim
pra acordar com o sol no piso da cozinha
e juntar meus brinquedos ao meu redor
antes do barulho do dia.

eu era pequeno demais
e a professora da primeira série
me disse que eu um dia eu seria um poeta.
eu nunca esqueci disso.
e eu nunca parei de observar o sol.


Esse texto tem um título auto-explicativo. Porque eu comecei a ler meu blog logo depois do almoço e vi que antes eu fazia muito isso de conversar por aqui e falar como andava a vida e o que eu fazia com meus planos. A diferença é que antes mais pessoas liam. Agora nem sei mais. Não tem problema.

Mas deu vontade de falar sobre as coisas.

O engraçado é que antes acho que eu fazia uns textos inspiradores e eu não sei como esse aqui vai ser, porque não tô planejando nada. Só quero contar como tá minha cabeça.

Aliás, ontem a Natália me mandou um vídeo de um cara falando sobre o Chico Bento, em algum momento desse vídeo o cara fala que o personagem Surfista Prateado era uma forma da esposa do Stan Lee saber como estavam as coisas na cabeça dele. Achei isso ótimo e sincero. E não sei porque falei sobre isso agora. Enfim…

Eu terminei a faculdade de cinema e agora eu não sei mais o que isso quer dizer. E não falo isso de forma triste, porque cinema é meio que um amor da minha vida. Mas acho que fui trocando umas coisas de lugar, arrastando uns móveis e gosto muito da cara que tá ficando.
Trocar as coisas de lugar me parece importante.
A Natália às vezes me mostra uns vídeos de decoração. Na verdade, acho que ela me mostrou uma vez ou outra e o resto das vezes eu vi sozinho depois.
O que importa é a forma como as coisas ficam quando a gente olha pra elas.

Eu parei de comer carne. Faz 2 meses. E me sinto uma pessoa melhor. Não sei se eu deveria dizer isso, mas é a verdade. Se eu pudesse dar qualquer conselho agora eu diria para vocês cuidarem dos animais. E das pessoas. O resto dá um jeito depois.

O Latino Americano começou a funcionar. E eu adoro falar sobre isso, até dentro da caminha cabeça. Latino Americano é um plano meu e da Natália, de fazermos lanches veganos e com um preço bem legal pra todo mundo poder pedir. Por enquanto é só em Araraquara, mas quem sabe logo mais?

Acho bem doido isso. Dos planos pra longe, dos planos pra perto e das coisas que a gente deixa acontecer sem muito plano. Porque a gente têm a mania de pensar que as coisas estão sempre acontecendo na hora errada, como se estivéssemos sempre atrasados. Mas hoje, enquanto dirigia o carro pra ir almoçar, me peguei pensando que todo o tempo do mundo existe, e que bobagem eu ficar teimando em acelerar tanto.
E isso me lembra que na terça fiquei 1 hora numa sala de espera num médico. E as salas de espera só me apressam mais. Talvez sejam as revistas, ou o quadros que não fazem sentido, ou as luzes.
Mas eu ouvi ‘vermelho’ do Marcelo Camelo e percebi que talvez não exista música tão minha.

Acho engraçado porque quando eu era mais novo eu tinha isso de ter coisas favoritas.
Vermelho era minha cor favorita.
O doido disso tudo é que eu fui namorar a garota sem coisas favoritas.

O mais legal disso é que muita coisa parece cada vez mais legal. E acho que cada vez mais a gente tem mais coisa boa pra contar. E tenho pensado se a vida não é sobre essas coisas. Sabe? Encontrar alguém legal e que dê uma sacudida no seu mundo, fazer uns planos, e deixar a pressa pra depois.

Você é aquilo que te faz feliz de verdade.


quando eu te vejo eu fico com vontade de dançar.
e às vezes eu faço isso
às vezes eu te puxo pra dançar comigo
às vezes você me ensina a dançar contigo.
a gente dança bem,
modéstia a parte,
no nosso ritmo preguiçoso
de acordar mais cedo
trocar de roupa, escovar os dentes, fazer panqueca de banana
e arrumar um dia bonito
entre as curvas dançantes do seu sorriso.
porque só assim que a gente sabe viver.

dia desses eu entendi que gosto de você como pessoa
e isso é maior do que eu posso contar e bem maior do que parece.
porque gostar como pessoa inclui toda a bagunça
e confusão e alegrias e dias tristes e segredos e sonhos,
por isso fiz uma estante bonita no quanto do quarto da nossa casa
e deixei um espacinho pra cada coisa nossa ter seu lugar.

a gente se perde às vezes
mas só por descuido, a gente é meio distraído

mas a gente nunca tá sozinho
porque se o mundo acabar qualquer hora
a gente já vai estar muito além.


te acho tão bonita
como uma manhã preguiçosa
onde a gente só levanta pra jogar água nas plantas
mas volta correndo pra cama
pra não deixar o coberto nem esfriar.
e te falo de uma coisa que pensei esses dias
que não é pra você reparar
mas ando com uma vontade de te olhar pra sempre.
então eu tiro foto de cada sorriso seu
ainda mais quando tá distraída assim
e eu quero mesmo é me debruçar pra te dar um beijo.
te acho tão bonita
mas você me acharia tão esquisito
se eu te falasse isso sempre que tenho vontade de falar,
então eu só fiz um acordo com o tempo
pra ele passar mais devagar quando eu pedir
e me deixar repousar como uma borboleta em seu ombro
pra eu bater as asas em suas bochechas.
te acho tão bonita
que esses dias apaguei todas as luzes da cidade
e eu vi o sol morder o seu cabelo
mas só de inveja de você que brilha tanto,
e minha pele que muda de cor
e a saudade que veio me visitar essa semana
e todas as coisas grandes e pequenas que me levam até você
que me fazem fechar os olhos pra sorrir
e abraçam meu coração
dizendo baixinho o quanto você é tão bonita.




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