Casa vazia
éramos em pelo menos 30 ou 40 pessoas. Sentadas no mesmo lugar, tentando passar mais depressa. Tentando chegar em casa mais cedo, pra ligar a televisão e deixar o volume baixinho na sala, só pra casa não parecer vazia, enquanto a comida esquenta na panela e os sapatos doem ainda mais no pé antes de tirar, até que os dedos descalços encostem no chão gelado. É aquela hora da noite aonde a cabeça é mais confusa, aonde o dia pesa mais, as contas estão presas na porta da geladeira, e o corte novo e as cores diferentes do cabelo não fazem tanto sentido quanto fazia algumas horas atrás. A louça ta enorme, as roupas estão uma bagunça no fundo do guarda-roupa. Eu queria ser um rei, a droga de um rei de qualquer coisa. Mas todas as pessoas, todas elas, se aproximam de nós com suas caixas debaixo do braço e mesmo em silêncio, dividem um pouco com a gente. Todas as 30 ou 40 pessoas ao redor de mim estão com suas caixas debaixo do braço. Queria te contar qualquer coisa sobre elas, queria tocar no violão alguma música bem boa pra te fazer dançar. E a casa não parecer vazia. Mesmo se a sua caixa pesar demais e se desmanchar, quero segurar qualquer coisa, qualquer objeto que por descuido você deixou de levar, por achar que não fosse mais usar, quero dividir sua bagunça com a minha, quero te ver no reflexo da televisão ligada e sem som, pra casa não ficar mais vazia.
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